terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Conquistar o Mundo

O Mostrengo
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as repreendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, Mensagem, 1934
Quando se sai de Portugal, onde quer que possamos ir, encontramos sempre um português. Os portugueses são um espécime que se espalhou pelo planeta, descobriu meio mundo, e provou a esfericidade da Terra. Esses grandiosos feitos dos nossos antepassados foram realizados por homens pequeninos (O Sr. Gama fez o maior feito da História da humanidade, até à data, com apenas 30 anos!), com parcos meios, e mudaram a História para sempre.
Cada vez que um português sai lá para fora, tem de tentar ser como o Sr. Dias que é retratado no poema acima. O Sr. Dias ia com medo. Tremeu muitas vezes antes de dobrar o Cabo da Boa Esperança. Mas manteve-se firme até ao fim, e disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:”
Como ele, vamos todos em missão, em representação de Portugal. Em cada português que é visto lá fora, estão todos os portugueses.
“Sou um povo que quer o mar que é teu;”
Vamos lá para ganhar! É sempre para ganhar! Nem que seja a feijões é para ganhar!
“E mais que o mostrengo, que me a alma teme”
Acima de todos os medos que possamos ter, como qualquer Cabo das Tormentas, ou outra qualquer tormenta que nos assole a alma.
“E roda nas trevas do fim do mundo,”
Podem acontecer coisas mesmo más!
“Manda a vontade, que me ata ao leme,”
O que me faz estar aqui,
“De El-Rei D. João Segundo!”
É a vontade do meu soberano. A minha, a nossa!

Hoje não há um Rei, e ninguém nos manda sair de Portugal, mas temos de ter sempre presente, que temos de honrar os nossos antepassados e os seus feitos. Não estaríamos aqui desta forma se não fossem eles. Nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, os louros eram entregues ao soberano, depois da glória alcançada. O desempenho desportivo de uma nação é um bom espelho do desempenho enquanto nação. Infelizmente o desempenho desportivo de Portugal não é brilhante. Para alguns, de manhã está-se bem é na caminha, para outros só se está bem, depois de esmurrar um árbitro, mas felizmente não somos todos assim. O Sr. Ronaldo, com certeza não chegou lá, sem horas infindáveis de dedicação e trabalho. Noutro campo, a Mariza não espalha magia pelo mundo sem esforço. São, ambos, grandes embaixadores de Portugal no mundo. Não foi sorte…
Para terminar, o Sr. Dias, que queria sempre mais, acabou por morrer nas Tormentas, em 1500 a acompanhar a expedição do Pedro Álvares Cabral. Ah, que esse Dias era teimoso!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Hic Deum Adora!*

O ser humano é o animal que domina o planeta. É a espécie que na evolução Darwiniana, se tornou mais apta para enfrentar o meio. Algumas limitações, como a falta de guelras, não nos permitem sobreviver em alguns meios, mas ainda assim, somos o animal mais completo. Podemos perguntar porquê. Alguns dirão que foi Deus, no entanto, eu diria que foi pura sorte. Se outras espécies tivessem evoluído de outra forma, nós seríamos subjugados por elas em menos de nada. Por exemplo, se as formigas fossem um pouco maiores, o planeta era delas. Um planeta com formigas do tamanho de um sapato seria facilmente dominado, e as restantes espécies, nada valeriam perante esta ameaça.

É certo que a espécie humana desenvolveu um engenho único, através do domínio de ferramentas, e criação de outras, que permitem enfrentar dificuldades. A capacidade criativa do Homem superou quase tudo, permitindo a este fazer coisas espantosas como voar. Mas perante isto, qual terá sido a maior invenção do Homem? Muitos dizem que terá sido a roda, ou o fogo. O fogo não é uma invenção, o fogo existe enquanto reacção química, as descobertas terão sido os instrumentos para o controlar. A meu ver, as maiores invenções humanas foram Deus e o dinheiro, e pela mesma razão (algumas pessoas estarão neste momento chocadas). Ambos são grandes facilitadores de vida e foram factores chave em termos de desenvolvimento civilizacional. Deus explica o inexplicável, tudo aquilo para o qual o ser humano à primeira vista não consegue arranjar uma causa. “Foi Deus!”. Eu não estou a dizer que Deus não existe. Aliás, se Deus não existisse não estaríamos a falar d’Ele. Por exemplo, o periquitélio (palavra esdrúxula) não existe. Ninguém consegue conceber na sua cabeça um conceito de periquitélio (podem ir ver ao Google). Não se vê ninguém a falar desse conceito que não existe. O que eu digo é que Deus não existe em Si, mas sim em nós. Não existe uma entidade lá em cima a olhar por nós, mas existe uma pictorização de algo nas nossas cabeças, diferente em cada cabeça, que significa Deus. Há correntes filosóficas que defendem que o conceito de Deus é inato. Nascemos com ele na cabeça. Não creio que seja verdade. A marca Coca-cola é dos símbolos humanos mais reconhecidos a nível planetário, a par com a cruz de Cristo. A Coca-cola anda por cá desde 1886, com orçamentos de publicidade gigantescos. Mas a Igreja anda cá há milhares de anos, com um esforço de marketing ainda maior, entranhado no desenvolvimento civilizacional, no poder, na cultura, arquitectura, arte e em quase todos os campos da vida social. São tão inatos, um como o outro.

Como terá sido inventado Deus afinal? Eu não estava lá, mas para mim, parece-me que terá sido com um evento natural inexplicável à data. Um trovão que incendiou a selva, ou outro fenómeno da mesma envergadura. Dois hominídeos ainda longe de terem desenvolvido uma linguagem: um terá grunhido para o outro em interrogação, e o outro contra-grunhiu qualquer coisa, que quererá ter dito, ou “não sei”, ou “é o acaso”. O primeiro hominídeo terá interpretado mal e terá assimilado aquilo como uma força grandiosa divina exterior a nós e criou-se o conceito de Deus. Depois de pequenos e grandes ajustes, foi passado de pais para filhos, chegando aos dias de hoje. Forças exteriores não existem. O Bem e o Mal existem, mas em nós.

O dinheiro, esse outro grande facilitador de vida, permite-nos ter acesso a níveis de bem-estar que de outra forma não seriam possíveis. Não digo o dinheiro enquanto forma de riqueza, mas o dinheiro enquanto instrumento. As notas e moedas constituem ferramentas geniais do ponto de vista de acesso a bens. É, ainda hoje, o maior acelerador do processo civilizacional.

Antes de escrever o texto, periquitélio não aparecia no Google. Agora, depois da publicação, pode ser até que apareça e já tem significado. É aquilo que serviu para explicar a existência de Deus, o que dito assim, parece uma coisa muito importante!

*Procurem na net!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O Trabalho Liberta!

Há eventos que são celebrados no nosso calendário que me causam alguma estranheza. O dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, é um deles! Será que não são todos os dias, dias de homens e de mulheres?! Ou os homens têm direito a 364 dias por ano e cedem gentilmente um dia para as suas companheiras, mães, irmãs e avós?! Em alguns países é mesmo dia feriado. Outro dia particularmente interessante é o dia do trabalhador. Será que em todos os outros dias é o dia de quem não faz nenhum? Por oposição ao dia do trabalhador, podíamos ter o dia do deputado! Até podia calhar ao Domingo, que ninguém dava pela diferença…

Mas o dia do trabalhador e o dia do deputado seriam criados pela mesma categoria de pessoas, os políticos. O que é então um sindicalista, senão um político disfarçado? Nem sequer é muito bem disfarçado, pois quase todos têm militância num partido mais ou menos à esquerda. Depois, o engraçado é que um sindicalista normalmente é uma pessoa que não é o melhor exemplo no que toca a trabalho. Defende os direitos dos trabalhadores, e faz disso carreira! Não seria melhor contratar uma pessoa que realmente conhecesse os problemas de quem trabalha? Por incrível que pareça, nem fazendo do sindicalismo carreira, se tornam peritos! Basta ver a deterioração do poder de compra dos Portugueses, para ver que esses senhores andam a fazer um péssimo trabalho há cerca de 34 anos. E são sempre os mesmos! As centrais sindicais, grandes conquistas de Abril, não parecem ser das instituições mais democráticas, ou não fossem elas uma parte importante da luta comunista, esse partido tão democrático…

A UGT (apoiada por partidos menos à esquerda) tinha o senhor Torres Couto, que foi indiciado num esquema de meter dinheiros europeus ao bolso. Utilizou a táctica Felgueiras, não em toda a sua amplitude, porque se demitiu, mas estava no Brasil aquando da leitura da sentença. Agora anda por lá o senhor João Proença, que sendo UGT, faz panelinha com o Sócrates. Na CGTP, desde que eu me lembro, que quem manda lá, é o senhor Carvalho da Silva. Profissão: Planificador de Trabalho! Digam-me lá, o que faz um planificador de trabalho? Planifica o trabalho?! Mas não é o dele, com certeza! As centrais sindicais não serão uma forma de controlo das massas, à semelhança de outros instrumentos sinistros de regimes menos democráticos? Os partidos é que as controlam e todas têm uma estrutura hierárquica tão vasta, que conseguem agradar a um elevado número de pessoas, e mantê-las na ordem. No fundo não interessa muito que elas pensem, a lei garante-lhes uns dias de acção sindical, que normalmente são colados aos períodos de férias, e estão todos felizes. Já repararam que até as greves, aparecem, também elas, quase todas coladas aos fins-de-semana? Então, a carreira de dirigente sindical é, ou não é, um grande tacho?

Trabalhar dá muito trabalho!

Só para rir, vejam, da Silva: O Planificador!
http://avenidadaliberdade.org/index.php?content=236

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Omelette, à Portuguesa!

Há quem diga que o 25 de Abril de 1974 foi o que fez com que houvesse lojas chinesas abertas nos 25 de Abril subsequentes. À partida não seria nada do outro mundo, não fosse um dia feriado. Mas porquê mais um dia feriado? Tirando as razões óbvias, o 25 de Abril não foi, nem mais, nem menos, que um erro de calendário. Era uma festa marcada para o 1º de Maio. As nossas tropas, depois de quarenta e tal anos de ditadura militar, fartaram-se de trabalhar e quiseram demonstrá-lo no dia do trabalhador e fazer uma greve, que já dura para cima de 34 anos. Dia do trabalhador, ou dia das mentiras (outro erro de calendário), já que é um dia em que quase ninguém trabalha, excepto os chineses.

Trinta e quatro anos de greve, não são seguramente para todos. É quase uma vida de serviço. Mais uns meses, e já está na altura de pôr os papéis para a reforma (da greve) e voltar a trabalhar. Os mais jovens já deram o exemplo, e foram de ovos na mão para cima de uma ministra (já agora, o que é que nasceu primeiro, a galinha, ou o ovo?). Depois de terem acabado com o serviço militar obrigatório, a juventude sente uma nova necessidade bélica, e extravasa desta forma. Isto é apenas um pequeno aviso, mas pode ser que pegue moda. Já estou a imaginar as visitas ministeriais, sempre com senhores com bancas de ovos, (em que os podres são os mais caros) para livre arremesso às comitivas. Os ministros terão de envergar indumentárias à prova de ovo, com capacete e óculos de protecção (imaginar o Sócrates de capacete…). Os produtores de ovos vão ficar milionários e a União Europeia vai ter de liberalizar as quotas de produção. O parlamento vai ter de fechar um dia por semana para desinfestação de salmonela, o que no fundo, não fará qualquer diferença…

Obrigado aos senhores de Abril, pois sem eles não haveria lojas chinesas em Portugal! Há muitas pessoas que pensam que nunca mais vai haver revoltas, porque chegámos à democracia, como se fosse o fim da linha. Estamos na União Europeia, e como tal, estamos protegidos de todo e qualquer tipo de revolta social. Será?! A dinâmica das sociedades sempre foi feita à base de conflito. As revoltas abanam tudo e a vida recomeça de outra forma. Certas maiorias, conquistadas democraticamente, começam a cheirar mal (como os ovos podres), e impera uma necessidade de renovação, já que a lei é estática e impõe grandes períodos fixos de legislatura. Já que não há mudanças na classe governativa, nem mesmo a nível ministerial, cabe a alguém afastar a mediocridade do sistema. As sociedades corrigem-se a si próprias e criam anticorpos para combater determinadas maleitas! Funciona mais ou menos como a “mão invisível” de Adam Smith. Como o Sr. Presidente da República não se mexe, as galinhas estão já a preparar-se e a acelerar os ciclos! Os produtores de ovos têm já unidades de stock em barda a apodrecer, para acrescentar valor ao seu produto! Estão neste momento a ser treinadas milícias de arremesso! Há milhares de voluntários!

Não há, mas podia haver... Lembrem-se: o objectivo supremo da guerra é a paz!

P.S. – Os ovos vieram primeiro. No tempo dos dinossauros já havia ovos, mas não havia galinhas. As galinhas apenas chegaram alguns ovos mais tarde…

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Quem fala assim não é gago!

O ser humano é um ser comunicativo. Há outros animais que comunicam, mas nós fomos os únicos a desenvolver códigos, que variam consoante as tribos, e variam mesmo, de grupo para grupo dentro da mesma tribo. Ora, a tribo dentro da tribo que desenvolveu a forma de comunicação mais bizarra é, sem dúvida, a tribo parlamentar. Porque é que aqueles senhores falam daquela maneira? Mais ninguém fala assim! Será que é para parecer que leram Eça ou Camilo? Toda a gente sabe que não! O único que leu, foi o Pacheco Pereira. Mas esse deve ter, anotados e catalogados, todos os erros gramaticais e sintácticos dos grandes clássicos da literatura portuguesa. Uma obra de grande interesse literário… Todos queremos saber como Pacheco Pereira escreveria o “Amor de Perdição”.

A oratória parlamentar é única. Em mais parte alguma se fala assim. Não há grupo de trabalho que trabalhe, que comunique como eles o fazem. Nem noutros grandes centros de decisão! Ou as Universidades!: Eu já estive em sessões, em anfiteatros com mais de duzentas pessoas, em que o orador foi primeiro-ministro de Portugal, e ele não falava daquela maneira! Até porque, como quem fala assim parece que está a mentir, ninguém o levaria a sério e abandonariam a sala em pouco tempo.

Depois há os deputados-gongo. Aqueles, que nunca ninguém viu discursar, mas que são essenciais para o bom funcionamento da fauna parlamentar. São os que, volta e meia, mesmo sem saber o tema da sessão, gritam: “Muito Bem!”, ou “Sr. Deputado!”, impedindo que os colegas mais incautos cometam o erro de adormecer perante as câmaras de televisão. São exímios no que fazem, disso podem gabar-se. Existe uma divisão natural do trabalho dentro da Assembleia. Todos têm um papel a desempenhar.

Mas como serão aqueles espécimes na vida real? Na vida íntima, privada, quando não precisam de estar a fingir… Será que falam da mesma maneira? Como será o senhor Sócrates, quando está no bacio e descobre que lhe falta o papel higiénico, já depois da obra feita? Será que fala da mesma forma nasalada e em falsete? Eu acho que sim, (ler com guinchos) “traz-me um rolo porreiro, pá!”; Já Manuela Ferreira Leite deve falar pelos cotovelos, tem ar de galhofeira; O senhor Louçã fala exactamente da mesma maneira, mas sem açaime; A Odete Santos, como pessoa genuína que todos conhecemos, fala da mesma forma entaramelada; O Paulo Portas a pedir um pequeno-almoço: “Eu solicito um galão: café, leite e açúcar! E um croissant misto: croissant, queijo e fiambre!”. Será que estes senhores ainda não perceberam que ninguém os respeita se continuarem a falar daquela maneira? Nós, os não-políticos, já começamos a ficar fartos de tantas pantominices, tretas e vigarices de toda a espécie. Ainda por cima, fazem-no de forma coloquial! Respondendo na mesma linguagem: “Senhor Deputado, colóquio, num sítio que eu cá sei!”

sábado, 8 de novembro de 2008

Super Menu

Pensando como Lavoisier, nós somos aquilo que comemos. A nossa dieta, dita “dieta mediterrânica”, é reconhecida pelos entendidos na matéria, como uma alimentação saudável e equilibrada que nos livrará facilmente da obesidade, uma vez regrada. Nos anos 80, não existia qualquer tipo de fast-food no nosso país. O mais parecido seriam talvez os pregos no pão e a sandes de torresmos, e na versão take-home, os frangos no churrasco.

Chegados os anos 90, aparecem os hamburgers, baguetes, pitas e claro, as pizzas. O que é então uma pizza, senão pão com queijo e tomate?! Mas não será que pão com queijo e tomate é comida de pobre? Depois é adicionada com outros condimentos, que dão sabor, mas que podem ser encontrados em qualquer parca despensa. (só uma nota: a pizza mais barata, de uma dessas casas famosas, custa 6 euros. Não é assim tão pobre…) A nossa gastronomia, que qualquer português se orgulha de ver como a melhor do mundo, é mediterrânica, e é também rica em pratos de pobre. Senão vejamos: O que é um arroz de polvo, ou de marisco, ou de pato, ou de outra coisa qualquer, senão um prato onde com pouca matéria-prima, se põe mais um copo de arroz e até se pode receber mais um ou dois convidados? A açorda não é nada mais, nada menos do que pão velho com água e aditivos! Uma sopa é água com condimentos, que faz um grande repasto! A velha fábula da sopa de pedra é prova disso mesmo. Um prato que nasceu da avareza...

Há pessoas que se queixam de que a fast-food é a principal causa de obesidade. Mas será que a obesidade é um problema assim tão grave? Ainda há 50 anos, na Europa havia fome! Ainda hoje, há zonas do globo com fome! Estamos ou não estamos melhor?! Eu confesso que nunca passei fome na vida, mas eu não preciso de passar fome, para ver que a obesidade é melhor. Seria como se me perguntassem se gosto de bosta. Sem provar, e sem saber de que espécie animal é proveniente, eu posso desde já afirmar, sem dúvida nenhuma, que não gosto!

A minha avó costumava dizer que no futuro, (“no ano 2000…”, dizia ela) bastaria um comprimido por dia para fazer face às nossas necessidades nutricionais. Mal ela sabia que iriam inventar o actimel. Aqueles 108 ml. (porquê 108?) com dez mil milhões de L. Casei não sei quê, que salvam a vida do cliente... (Ah!, claro, são 92.592.593, por mililitro! Mais, seria excessivo…) Daqui a uns anos bastará um actimel para o dia todo! Será a dieta moderna dos países mais ricos e desenvolvidos. Seguramente dispendiosa, terá um sistema de regurgitação duodenal para manter o estômago a trabalhar durante as 24 horas do dia, e todos os mil milhões de mil milhões de coiso, necessários à sobrevivência humana. Depois, uns goles de água “fibras”, para cortar no apetite! Repisando o tema da bosta, a única vantagem seria poupar no papel higiénico…

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

E Viveram Felizes Para Sempre...

O casamento é uma coisa sagrada. Um sacramento. Uma união de duas pessoas que se amam, com o objectivo supremo de constituir família. Aquando da fundação do Reino, as coisas eram feitas mais aos olhos de Deus, e com o passar do tempo, chegamos aos nossos dias em que se trata apenas de um simples contrato. Independentemente das crenças, e creio que D. Afonso concordaria comigo, não estamos melhor. Entretanto, chega o divórcio…

Do latim divortium, (podia bem ser divertium!) este outro contrato, começa a proliferar, havendo nos dias que correm uma taxa de divórcio de 48% no nosso país. É quase como atirar uma moeda ao ar! Há países mais “desenvolvidos” em que as taxas são da ordem dos 65%! Quase dois terços! Quer dizer que houve um terço que teve azar, e a morte chegou antes que eles tivessem oportunidade para se divorciar!

Fiquei espantado, mas há vários sites exclusivamente dedicados a divórcios! Mas divórcios online! Fará mais sentido, uma vez que já não vivem juntos?! Divorciam-se na net!? O meu link preferido é “recomendar este site a um amigo”. E porque não ao marido!?

Num futuro mais ou menos próximo, o sistema de vida social, como era o dos nossos pais, vai acabar. Como tudo é descartável, um ser humano vive com outro durante uns anos, até se fartar. Depois troca, e faz mais uns anos. O casamento como o conhecemos vai deixar de fazer sentido. A minha sugestão é uma reforma do contrato de casamento. Que o princípio da liberdade contratual possa permitir ao casamento que se torne um contrato a termo. Por exemplo, um contrato de três anos, prorrogável continuamente por períodos não inferiores a um ano, quando não denunciado por um dos contraentes com pré-aviso (carta registada) de antecedência mínima de trinta dias (um mês deve chegar). Vai acontecer: "Esqueci-me de pôr os papéis! Vou ter de aturá-la mais um ano!" Seria como os passes dos jogadores de futebol: “Assinei por três anos!”. Hoje ninguém quer ninguém a envelhecer ao lado, por isso vai-se fazendo reciclagem conjugal até estarmos tão velhos, que a única pessoa que nos pega também tem a nossa idade… Com o passar dos anos, a Igreja, que também vai perdendo clientes, vai ter de se adaptar a esta nova realidade e também terá de reformular a sua visão do sacramento casamento. Se assim não for, daqui a uns anos, numa igreja, poder-se-á ouvir o padre em liturgia: “Até que o divórcio vos separe…” – Pelo menos é o que ele vai estar a pensar!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um Forte Aplauso!

O comportamento humano em grupo é cheio de pequenos pormenores deliciosos. Um dos meus preferidos é as palmas depois de uma aterragem… Eu interrogo-me sobre a causa das palmas. Será da confortabilidade? Nunca viajei em 1ª classe, mas as palmas vêm na sua maioria da classe turística, que posso afirmar não ser o sítio mais confortável para viajar. Da comida, não preciso de justificar, não é de certeza. Será dos decotes das assistentes de bordo? Podia ser, mas eu lembro-me bem de ver demasiadas mulheres a aplaudir para que fosse isso. Será então que se aplaude toda a experiência de voo, desde as esperas e demoras, à má comida, cadeiras desconfortáveis, possíveis enjoos, crianças a chorar, turbulência, etc.? Só se for porque chegou ao fim o sofrimento!

Esperem aí; querem ver que as palmas são para o piloto e a sua bela aterragem? Mas ele não se encontra apenas a fazer o seu trabalho? Se ele o fizer mal, a sua vida não dependerá também disso? O Sr. Superman diz que, estatisticamente, voar ainda é a forma mais segura de viajar, mas acidentes acontecem, e sobreviver a um é uma verdadeira lotaria. Aliás, deve haver no mundo mais pessoas que ganharam a lotaria, que as que sobreviveram a um acidente de avião (não sei se é verdade, mas vou confirmar e depois digo).

Ora então aplaude-se o ofício do Sr. Piloto. Mas se assim é, porque não aplaudir outras profissões tão esquecidas neste mundo? Um motorista do 50, se chegar a Algés com as carteiras dos clientes intactas merece ou não merece um aplauso? Até parece que estou a ver: um taxista do aeroporto a levar um cliente para o hotel – Clap! Clap! Clap! Clap! – Um polícia a passar uma multa de trânsito – Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! – Os senhores da EMEL a levarem-me o carro – Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Seríamos todos mais felizes! Alguns sociólogos mais teóricos poderão estar a pensar que isto é uma boa forma de motivação dos recursos humanos de qualquer organização. Imaginem: a Loja do Cidadão poderia transformar-se num autêntico festival, com os vários pisos, à vez, em animação… Clap! Clap! Clap! As Finanças! Clap! Clap! Clap! Clap! Os Tribunais! “Apanhei 10 anos!” Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Os Funerais! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap!

Os únicos que ficariam de fora seriam os fadistas de Coimbra. Para quem não sabe, no fado de Coimbra não se bate palmas, o que eu acho errado, já que o trabalho deles é bem mais agradável que o dos senhores da EMEL. Para Coimbra, poder-se-ia adoptar um ritual diferente da palma, mas mantendo o silêncio. Ou isso, ou parar de bater palmas em aviões! O piloto até nem faz grande coisa! Os computadores é que fazem quase tudo! Se até o MacGyver conseguiu aterrar um avião a receber instruções via rádio, é porque não é assim tão difícil! Tenho uma sugestão: a banda sonora da aterragem passa a ser fado de Coimbra! Depois é fácil…

sábado, 18 de outubro de 2008

Quem diz é quem é!

Desde pequeno que há uma coisa que me faz confusão no futebol. O fora-de-jogo. Há uma jogada de ataque; o avançado está isolado; correu mais que toda a gente; foi mais lesto e expedito que toda uma defesa, e depois há um senhor, que levanta uma bandeira e outro que apita e pára tudo! Depois deste acontecimento, normalmente as mães desses dois senhores são reapelidadas. Eu, desde que me lembro, que jogo futebol com os meus amigos e não havia nada disso. Um atacante correr mais que a defesa é bom, e se tiver no que vulgarmente se chama de “a mama” é maravilhoso para quem ataca, porque normalmente resulta em golo – o objectivo supremo do jogo! Podem então fazer ideia da confusão que isto faz na cabeça de uma criança.

Cerca de vinte anos mais tarde, por incrível que pareça, a confusão é a mesma. Quem terá sido o agente criador dessa brilhante lei que é a do fora-de-jogo? Nas regras não consegui perceber, mas depois de pensar um bocadinho sobre a questão, tornou-se-me óbvio. Senão reparem: Século XIX, a juventude a dar pontapés numa bola de couro, numa Inglaterra chuvosa e enlameada, com uma indumentária pouco adaptada à novidade que é o jogo. Lá atrás está um menino, branco como a cal, com ar de quem nunca viu o Sol, ruivo, obeso, com as faces rosadas do cansaço e a perder. Farto de ser ultrapassado pelo menino mais pobre, que comendo menos, se torna mais ágil e apto para qualquer actividade física. “Assim não vale! Não brincas mais!” grita o puto mimado. Sendo filho do industrial da zona, é o dono da bola, como tal, é soberano. (Uma pequena dúvida sobre riqueza: Porque é que, padecendo do mesmo mal, os meninos quando são ricos, são disléxicos, e quando são pobres, são burrinhos?) Eis a raiz do mal que depois alguém baptizou de fora-de-jogo.

Mas o futebol é um jogo virtuoso. É um jogo de destreza física e psicológica, e sendo um jogo de equipa, dinamiza o espírito de grupo de uma forma que penso ser positiva. A não ser quando se trata de competições oficiais, em que vale tudo. De facto, desportos há, em que mesmo envolvendo muito dinheiro, como a Fórmula 1, não há pejo nenhum em voltar atrás numa decisão de arbitragem, ou mesmo penalizar os competidores a posteriori, já que os olhos em directo não vêem tudo. No futebol, à vista de todos, há golos com a mão, golos que não são golo, golos mal anulados, penalties mal assinalados, toda uma série de aldrabices. E claro, os foras-de-jogo. Depois, a mãe do Sr. Árbitro muda de profissão. E, pensando um pouco, quem é que escolhe a carreira do apito? São insultados e ameaçados de porrada desde pequeninos. Não percebo.

Em Portugal, por exemplo, é de facto estranho, que em cerca de 100 campeonatos, apenas tenha havido três campeões diferentes, com excepção do Belenenses nos anos 50 e mais recentemente o Boavista, por pura distracção. Mesmo assim, o Sr. da Costa até teve azar. Está lá há cerca de 25 anos, ganhou quase 20 campeonatos, e no único jogo combinado, apanharam-no! É azar! Mas descansem, que ele não faz nada de novo; não inventou nada! Já se fazia antes! Ainda se faz, mas ele faz melhor! Lembrem-se que quem inventou tudo foi um menino ruivo e obeso… O espírito dessa criança ainda impera no futebol dos nossos dias. Não se esqueçam que esse menino proporcionou momentos de felicidade a muitos adeptos. Tudo começou com um simples fora-de-jogo.

P.S. – Acho que se devia mudar o nome da lei. Não querendo ser disléxico, (prefiro burrinho) chamar-lhe-ia foda-se-jogo.

sábado, 11 de outubro de 2008

Não Apimbalharás!

Há pouco descobri que existem em Portugal cerca de 13 milhões de cartões de telefones móveis activos. Se descontarmos os recém-nascidos e algumas pessoas doentes ou idosas que possam não se ter adaptado à tecnologia, teremos cerca de um telemóvel e meio por cabeça, ou talvez mais. Ou seja, eu e o Sr. Leitor temos três! Como é isto possível? Será que o ser humano é um bicho assim tão sedento de comunicação? Ou são só os portugueses?

Alguns dirão que foi a estrutura de mercado que induziu a esta situação. Três operadoras, num país tão pequeno, tiveram de fazer campanhas em massa para continuar a expandir negócio e vender mais que as necessidades. Outros dirão que a causa se encontra nos tarifários inter-operadoras. Como é muito caro falar para clientes de outras operadoras, mais vale ter outro cartão activo de outra rede com um tarifário mais simpático.

Ambos podem ter razão, mas no essencial, o que tornou isto possível foi um apimbalhar do uso do telemóvel! (O verbo apimbalhar: Eu apimbalho, tu apimbalhas, ele apimbalha…). Os meios de comunicação e a publicidade conseguiram de uma forma extremamente hábil transformar o uso do telemóvel numa coisa “pimba”. Neste momento está a passar-se exactamente o mesmo fenómeno com a internet e a proliferação dos Magalhães e de outros computadores portáteis para estudantes de quase todas as idades. (Já agora, uma dúvida, se os pais de um aluno tiverem dinheiro, são obrigados a comprar um Magalhães?, ou o seu filho pode ir para a escola com um computador normal mais avançado?).

O nosso passado recente é farto nestes fenómenos de massas. Temos o movimento da libertação de Timor Lorosae, em que milhares de pessoas saíram à rua vestidas de branco, ou quando aquele estudante foi esfaqueado, à porta de casa, ao pé do Instituto Superior Técnico, e acabou por falecer, e as pessoas saíram à rua de luto. Temos a Expo’98, e claro, o Euro2004. Eu penso que devo ter aderido a quase todas. Eu sou Pimba! Estes episódios, uns com fundamentos mais nobres que outros, tiveram essa grande ajuda dos meios de comunicação social, que através de manobras publicitárias os tornaram um sucesso absoluto.

E eu pergunto-me: por que não fazer uma manobra similar concertada e tentar tornar Portugal num país mais culto. O país de Camões, de quem todos fogem, na escola. Pôr um país inteiro a ler, sem ser A Bola, O Record ou o 24 Horas. Ou mesmo a aprender a tocar um instrumento musical. As despesas anuais em telecomunicações representam cerca de 5% do PIB, ou seja, 8 mil milhões de Euros. Por que não pôr Portugal a gastar metade em livros ou instrumentos musicais, mesmo que isso fosse através de uma apimbalhação destas acções? Do pior que podia acontecer era começar a ouvir os vizinhos a ensaiar Tony Carreira ao violino. Pior, só mesmo Delfins! Tornar-nos-íamos num país muito mais interessante! Já estou a imaginar as conversas nas tascas: “Ó Fanã, a minha Superbock apenas está medianamente refrigerada!”, ao que o Fanã respondia: “F#%&-se! Já enderecei uma reclamação às entidades responsáveis!” Reparem que eu mantive o “F#%&-se!”, porque mesmo com o Sr. Fanã mais culto, uma taberna será sempre uma taberna! Até as discussões sobre futebol!... “ O Nuno Gomes ontem teve um desempenho irrepreensível! Foi exímio na execução!” – resposta – “Sim, mas a fadiga era notória no seu semblante.”

Mas depois o que é que faríamos às pessoas que trabalham nas redacções do Metro ou do Destak? E aos directores de programas como As Tardes da Júlia? Ou a todos os membros da Tertúlia Cor-de-Rosa, do programa Fátima, da SIC, sem excepção? A publicações como a Maria, TV7Dias, Ana, Nova Gente, VIP, Caras, e porque nunca é demais repetir, o 24 Horas? Teríamos de ensinar toda esta gente a ler?! Isso revelar-se-ia uma tarefa muito mais difícil. Não, definitivamente estamos melhor assim. Desculpem o devaneio.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O Primeiro Contrato

Muitos falam da profissão mais velha do mundo, mas ainda não ouvi ninguém a debruçar-se sobre quem terá sido o autor de tão brilhante invenção. Não digo o nome da personalidade, pois terá sido numa altura da História onde os humanos apenas começaram a ser humanos e a comunicação era feita à base de grunhidos, mas a minha questão prende-se com homens ou mulheres. Esse ofício, que trouxe aumentos de bem-estar a tantas pessoas, terá sido inventado por um homem, ou por uma mulher?

Depois de fazer uma análise pensada sobre o problema, deparei-me com três situações possíveis que possam ter originado essa função, e em todas elas, é impossível provar qual foi a verdadeiramente pioneira:

1. O chefe do clã precisava de algum bem do outro clã e utilizou esses serviços para o obter. Os chefes seriam certamente do sexo masculino, e assim teria sido o homem a inventá-lo.

2. A mulher, para sobrevivência própria ou das crias recorreu a essa via para subsistir. Aqui terá sido a mulher a inventar, por necessidade. “a necessidade aguça o engenho”.

3. Nesta terceira situação é dúbio quem terá sido o autor. Eu chamo-lhe o acaso da selva. Há um detentor de um objecto. Em princípio será um alimento, pois ainda não estamos a falar de bens materiais, e a noção de dinheiro ainda não foi criada. Um homem e uma mulher cruzam-se e um deles vai levar a melhor. Possivelmente o homem, por ser mais forte, mas mesmo assim é de análise inexacta e é impossível aferir sobre quem verdadeiramente tirou mais vantagem da situação.

Esta audaz criação, mudou a humanidade. Este é talvez o primeiro conflito civilizacional que terá abordado questões de direito, o que sem linguagem e comunicação verbal e uma mínima organização social, teria de ser resolvido pela lei da força. Desenvolveu o comportamento da sociedade enquanto grupo, no que toca a segurança das tribos, e em consequência terá ajudado a desenvolver a linguagem, uns primeiros códigos inteligíveis apenas por membros da mesma tribo. No fundo foi um motor de arranque para o processo civilizacional no qual nos encontramos hoje.

Para quem só pensa em putas, a profissão mais velha do mundo é a gatunagem! Antes de pensar nos prazeres da carne e negociá-los, era necessário andar de barriga cheia, e para tal, já que caçar dá um certo trabalho, roubar quem caça parece-me uma decisão mais acertada. Possivelmente muito antes ainda da idade de começar a pensar em fêmeas. No entanto, a prostituição terá sido, a par com a caça, das primeiras actividades económicas socialmente lícitas. Ainda que tácito, com inexistência de dinheiro, em troca de protecção ou nutrição, é a génese do contrato como o conhecemos hoje.

Pensando bem, também foi uma grande invenção!