sábado, 11 de outubro de 2008

Não Apimbalharás!

Há pouco descobri que existem em Portugal cerca de 13 milhões de cartões de telefones móveis activos. Se descontarmos os recém-nascidos e algumas pessoas doentes ou idosas que possam não se ter adaptado à tecnologia, teremos cerca de um telemóvel e meio por cabeça, ou talvez mais. Ou seja, eu e o Sr. Leitor temos três! Como é isto possível? Será que o ser humano é um bicho assim tão sedento de comunicação? Ou são só os portugueses?

Alguns dirão que foi a estrutura de mercado que induziu a esta situação. Três operadoras, num país tão pequeno, tiveram de fazer campanhas em massa para continuar a expandir negócio e vender mais que as necessidades. Outros dirão que a causa se encontra nos tarifários inter-operadoras. Como é muito caro falar para clientes de outras operadoras, mais vale ter outro cartão activo de outra rede com um tarifário mais simpático.

Ambos podem ter razão, mas no essencial, o que tornou isto possível foi um apimbalhar do uso do telemóvel! (O verbo apimbalhar: Eu apimbalho, tu apimbalhas, ele apimbalha…). Os meios de comunicação e a publicidade conseguiram de uma forma extremamente hábil transformar o uso do telemóvel numa coisa “pimba”. Neste momento está a passar-se exactamente o mesmo fenómeno com a internet e a proliferação dos Magalhães e de outros computadores portáteis para estudantes de quase todas as idades. (Já agora, uma dúvida, se os pais de um aluno tiverem dinheiro, são obrigados a comprar um Magalhães?, ou o seu filho pode ir para a escola com um computador normal mais avançado?).

O nosso passado recente é farto nestes fenómenos de massas. Temos o movimento da libertação de Timor Lorosae, em que milhares de pessoas saíram à rua vestidas de branco, ou quando aquele estudante foi esfaqueado, à porta de casa, ao pé do Instituto Superior Técnico, e acabou por falecer, e as pessoas saíram à rua de luto. Temos a Expo’98, e claro, o Euro2004. Eu penso que devo ter aderido a quase todas. Eu sou Pimba! Estes episódios, uns com fundamentos mais nobres que outros, tiveram essa grande ajuda dos meios de comunicação social, que através de manobras publicitárias os tornaram um sucesso absoluto.

E eu pergunto-me: por que não fazer uma manobra similar concertada e tentar tornar Portugal num país mais culto. O país de Camões, de quem todos fogem, na escola. Pôr um país inteiro a ler, sem ser A Bola, O Record ou o 24 Horas. Ou mesmo a aprender a tocar um instrumento musical. As despesas anuais em telecomunicações representam cerca de 5% do PIB, ou seja, 8 mil milhões de Euros. Por que não pôr Portugal a gastar metade em livros ou instrumentos musicais, mesmo que isso fosse através de uma apimbalhação destas acções? Do pior que podia acontecer era começar a ouvir os vizinhos a ensaiar Tony Carreira ao violino. Pior, só mesmo Delfins! Tornar-nos-íamos num país muito mais interessante! Já estou a imaginar as conversas nas tascas: “Ó Fanã, a minha Superbock apenas está medianamente refrigerada!”, ao que o Fanã respondia: “F#%&-se! Já enderecei uma reclamação às entidades responsáveis!” Reparem que eu mantive o “F#%&-se!”, porque mesmo com o Sr. Fanã mais culto, uma taberna será sempre uma taberna! Até as discussões sobre futebol!... “ O Nuno Gomes ontem teve um desempenho irrepreensível! Foi exímio na execução!” – resposta – “Sim, mas a fadiga era notória no seu semblante.”

Mas depois o que é que faríamos às pessoas que trabalham nas redacções do Metro ou do Destak? E aos directores de programas como As Tardes da Júlia? Ou a todos os membros da Tertúlia Cor-de-Rosa, do programa Fátima, da SIC, sem excepção? A publicações como a Maria, TV7Dias, Ana, Nova Gente, VIP, Caras, e porque nunca é demais repetir, o 24 Horas? Teríamos de ensinar toda esta gente a ler?! Isso revelar-se-ia uma tarefa muito mais difícil. Não, definitivamente estamos melhor assim. Desculpem o devaneio.

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