segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Um Forte Aplauso!

O comportamento humano em grupo é cheio de pequenos pormenores deliciosos. Um dos meus preferidos é as palmas depois de uma aterragem… Eu interrogo-me sobre a causa das palmas. Será da confortabilidade? Nunca viajei em 1ª classe, mas as palmas vêm na sua maioria da classe turística, que posso afirmar não ser o sítio mais confortável para viajar. Da comida, não preciso de justificar, não é de certeza. Será dos decotes das assistentes de bordo? Podia ser, mas eu lembro-me bem de ver demasiadas mulheres a aplaudir para que fosse isso. Será então que se aplaude toda a experiência de voo, desde as esperas e demoras, à má comida, cadeiras desconfortáveis, possíveis enjoos, crianças a chorar, turbulência, etc.? Só se for porque chegou ao fim o sofrimento!

Esperem aí; querem ver que as palmas são para o piloto e a sua bela aterragem? Mas ele não se encontra apenas a fazer o seu trabalho? Se ele o fizer mal, a sua vida não dependerá também disso? O Sr. Superman diz que, estatisticamente, voar ainda é a forma mais segura de viajar, mas acidentes acontecem, e sobreviver a um é uma verdadeira lotaria. Aliás, deve haver no mundo mais pessoas que ganharam a lotaria, que as que sobreviveram a um acidente de avião (não sei se é verdade, mas vou confirmar e depois digo).

Ora então aplaude-se o ofício do Sr. Piloto. Mas se assim é, porque não aplaudir outras profissões tão esquecidas neste mundo? Um motorista do 50, se chegar a Algés com as carteiras dos clientes intactas merece ou não merece um aplauso? Até parece que estou a ver: um taxista do aeroporto a levar um cliente para o hotel – Clap! Clap! Clap! Clap! – Um polícia a passar uma multa de trânsito – Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! – Os senhores da EMEL a levarem-me o carro – Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Seríamos todos mais felizes! Alguns sociólogos mais teóricos poderão estar a pensar que isto é uma boa forma de motivação dos recursos humanos de qualquer organização. Imaginem: a Loja do Cidadão poderia transformar-se num autêntico festival, com os vários pisos, à vez, em animação… Clap! Clap! Clap! As Finanças! Clap! Clap! Clap! Clap! Os Tribunais! “Apanhei 10 anos!” Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Os Funerais! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap! Clap!

Os únicos que ficariam de fora seriam os fadistas de Coimbra. Para quem não sabe, no fado de Coimbra não se bate palmas, o que eu acho errado, já que o trabalho deles é bem mais agradável que o dos senhores da EMEL. Para Coimbra, poder-se-ia adoptar um ritual diferente da palma, mas mantendo o silêncio. Ou isso, ou parar de bater palmas em aviões! O piloto até nem faz grande coisa! Os computadores é que fazem quase tudo! Se até o MacGyver conseguiu aterrar um avião a receber instruções via rádio, é porque não é assim tão difícil! Tenho uma sugestão: a banda sonora da aterragem passa a ser fado de Coimbra! Depois é fácil…

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