quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Abelha-Mestra

As abelhas são um animal de extrema importância para os ecossistemas do planeta. Polinizam as espécies vegetais e são essenciais para a agricultura. Há mesmo apicultores móveis que se deslocam centenas de quilómetros até grandes plantações na época da flor para polinizar e aumentar a produtividade das colheitas. As abelhas vivem num sistema social complexo, com hierarquias bem definidas, e onde cada classe desempenha o seu papel. No entanto alturas há, em que a colmeia, por variadas razões, deixa de conseguir ter recursos para toda a colónia, e tem de enxamear. Ou por excesso de população, ou por falta de alimento, toda a população, incluindo a rainha, abandona a colmeia em busca de um poiso melhor, onde a sobrevivência da colónia possa ser melhor sustentada.
Nos negócios, os humanos também se comportam como a Natureza. Em cada ramo, abrem-se negócios, como nenúfares, que vão crescendo salutarmente no lago. Com o desenvolvimento científico dos negócios, criam-se aumentos de eficiência que tornam muitos outros colegas do mesmo ofício obsoletos. Vão-se assim eliminando membros da mesma espécie, caminhando para oligopólios/monopólios, onde muitas vezes as autoridades de concorrência não sabem como intervir. No limite, apenas será precisa uma marca de cada bem para garantir que a produção tenha qualidade para toda uma economia. Na distribuição passa-se o mesmo. Fábricas extremamente eficientes, que concorrem com competidores da mesma dimensão, têm de fazer concentrações a jusante e incorporar a distribuição no próprio negócio. Surgem assim os Category Killers. Grandes lojas, especializadas em artigos desportivos, electrodomésticos, ou até mesmo mercearia, vão crescendo como nenúfares maiores, tomando conta do lago, assimilando ganhos de especialização e optimização de recursos. Departamentos, como publicidade, marketing, contabilidade, trabalham para uma mesma rede, diluindo os custos entre as lojas, tornando as grandes empresas altamente competitivas nos mercados. Isto verifica-se com frequência no mundo ocidental e Moçambique para lá caminha.
Por essa e por outras razões, as taxas de desemprego dessas economias crescem, e as taxas de crescimento são estranguladas pela concorrência feroz. Para citar apenas uma história célebre de comportamento predatório em negócios, havia um café antigo e famoso nos Estados Unidos. A grande cadeia Starbucks (franshising de lojas de café) decidiu que aquele era um bom sítio para estar, e abriu uma loja na porta ao lado. Como não chegou para derrubar o imponente e antigo café, decidiram abrir outra loja na porta do outro lado. Depois de definharem o velhinho café e este ter de fechar, o gigante americano decide fechar uma das lojas que abrira, já que não precisava de ter duas lojas iguais a concorrerem tão perto uma da outra.
Contra competidores deste calibre, as economias do Ocidente tornam-se insuficientes para alguns grupos sociais. Os donos e trabalhadores destes cafés velhinhos têm então de enxamear. É o que se está a viver neste momento, com um novo fluxo migratório que vem para África. Plena de recursos, atrai os indivíduos mais dinâmicos que se tornaram “obsoletos” na sua própria colmeia, ou que estão descontentes com as suas próprias vidas. Todos os dias, chegam aviões que trazem pessoas qualificadas e investidores, à procura de novas oportunidades. Da Europa, das Américas e até da Ásia. Não se trata de uma invasão, nem sequer de uma ameaça. Trata-se mesmo de uma grande oportunidade. Moçambique, que neste momento vive um clima de crescimento sustentado e continuado, tem tudo a ganhar com estes novos obreiros, que tentam polinizar o quintal Moçambicano, na esperança de levar algum mel. Eles levam mel, mas o quintal fica mais frondoso e a fruta é mais abundante e mais doce.

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